{01} KooAdventure

Mabekko andava meio confusa, literalmente. Recebeu um pokemon, mas não sabia o que exatamente faria com ele e o pior, para onde ir. E falando nele, lembrou-se que deveria tê-lo soltado há algum tempo. Sua mente havia sido ocupada totalmente pela a ideia de empreender a essa — estranha — jornada. Suspirando, deixou de lado o devaneio. Puxou da bolsa a pokébola que aumentou de tamanho e num clique, a mesma abriu, permitindo a soltura da coruja.

Rowlet pousou no chão delicadamente em um balançar de asas. Ambos ficaram se encarando num estranho silêncio. De início, Mabekko ficou empolgada. Ela sempre quisera um pokemon e achava uma honra quem encarregava-se de um. Talvez devesse quebrar o gelo, ser a primeira a criar o elo, pensou Mabekko nervosa. Era assim que se fazia amizade com um pokemon, certo? Mabekko ousou a dar um sorriso tímido e numa súbita ideia, abriu a bolsa novamente e dali retirou um dos doces que trouxera de casa — antes de ser expulsa. — Alola! Eu sou Mabekko, prazer em conhece-lo. — A garota se abaixou para entregar o doce, mas a coruja possuía outro intento. Empertigou-se e esquivou da mão da jovem, pulando para dentro da bolsa. — O que?! Ei... espera! Não. Não. Não!

A bolsa foi chacoalhada exasperadamente de um lado para o outro e Mabekko foi obrigada a aguentar o repentino peso extra. O movimento só parou quando o rosto de Rowlet emergiu da entrada, segurando no bico uma carta azulada. Mabekko puxou a carta para longe da coruja, antes que ele achasse que aquilo também fosse algum tipo de comida. Ela desdobrou o papel amassado e passou os olhos rápido. Mabekko inspirou fundo. A letra era de sua mãe.

Alola querida. Se está lendo esta carta então chegou a hora da expulsão de casa. Seu pai e eu decidimos isso. Quer saber o motivo dessa decisão? Neste caso, tente me encontrar.
Ps: Posso estar em uma das quatro ilhas, portanto, seja uma boa treinadora e complete os desafios das ilhas. Fácil, não? Boa sorte minha querida filha.

Assinado, Mamãe.

Mabekko examinou o pequeno papel azulado mais de uma vez com intuito de não ter deixado passar nenhuma outra informação. Os ombros caíram, desapontada. Nada de um: “Desculpa meu desaparecimento filha.” Ou “Não se preocupa isso foi só uma brincadeira.” — É isso? — O que ela precisava de Malasada, isso melhoraria seu humor drasticamente. Mas Rowlet fizera o favor de comer tudo, deixando apenas um pedaço. Deu de ombros e aproveitou a parcela, presumindo que logo encontraria uma loja pelo caminho. — Então, somos só você e eu nessa jornada. Aceita viajar comigo Rowlet? — O pequeno pokemon fixou os olhos na garota e logo fechou-os para emitir: — Kooo. — Mabekko sorriu, anuindo a cabeça. Assumiria aquilo como um sim. Deixou-o se acomodar melhor na bolsa e voltou a caminhar na trilha de terra.

Inspirando fundo, Mabekko expelia devagar o ar frio pela boca. Ela conhecia muito bem o clima de Alola, conhecia tão bem como a si própria, mas estando ali, em meio a vegetação, a atmosfera era outra, muito diferente da cidade. Mabekko maneou a cabeça e fixou os olhos na relva ao redor; na curva reluzente das arvores e no doce aroma das flores invernais. A neve que caía lentamente mesclava com os resquícios de folhas na tonalidade verde claro. Pouco a pouco a brancura tomava conta do local.

Um estranho sentimento brotou dentro do peito dela. Mabekko começava a gostar daquela sensação de liberdade e dos ares de aventura. Mas, em nenhum momento passou pela mente da garota de que talvez essa pudesse ser uma das intenções de seus pais. Leviana a situação, exibiu um sorriso divertido e passou a caminhar com mais confiança. Podia tomar conta de si mesma, afirmou a jovem ao vento. Deu uma olhadela rápida na sua lateral e contemplou uma coruja plenamente aconchegada no calor da bolsa. É, não completamente sozinha, pensou sorrindo.

Mabekko então decidiu que faria tudo ao seu alcance naquela jornada, mas logo teve que parar ao notar que o chão terminava e outra iniciava numa espessa camada de neve. Não imaginava que o início daquele percurso trouxesse um obstáculo logo de cara. Por um instante, cogitou na ideia se deveria ou não voltar. Ela balançou a cabeça em negativa e franziu o cenho. — Sempre em frente Mabekko! — Mabekko tomou fôlego e pôs primeiro o pé esquerdo e depois o direito na neve fofa e gélida. Todo o seu corpo até o último fio de cabelo se arrepiou. Nos primeiros passos Mabekko não estava se dando muito bem. A neve parecia mais pesada do que aparentava. Como poderia ser pesada justo a neve que era tão bonita e leve?

Levou alguns minutos para que ela conseguisse chegar a um vasto campo e onde o solo era mais consistente. Apressou-se em retirar de sua roupa e do rosto despreocupado de Rowlet a neve acumulada. Em breve momento vislumbrou algumas criaturas solitárias e outras em bandos, mas o que chamara sua atenção foi a silhueta de uma criança sentada em um dos bancos dispostos mais adiante. Ficou surpresa em encontrar alguém ali, ainda mais sozinho. Com extremo cuidado, Mabekko aproximou-se da criança que tremia mesmo estando agasalhado. Pigarreou para quebrar a tensão. Temia que tivesse acontecido alguma coisa a ele. — Alola. Está com algum problema? Oh, por acaso está sentindo dor em algum lugar? Machucado, talvez?

O coração de Mabekko palpitou mais forte ao ver o rosto do garoto salpicado por lágrimas. Mabekko tinha uma fraqueza por coisas pequenas e fofas, e, pokemon e crianças preenchiam os quesitos das duas categorias. Cerrou o pulso na alça da bolsa. O movimento brusco no suspensório fez Rowlet se mexer, curioso, abriu um só olho. A garota arqueou uma das sobrancelhas quando o garoto mencionou que não deveria falar com estranhos. — Estranho? Oh sim, para você eu sou uma estranha, mas bem, sou uma estranha boa... quero dizer, nem todos os estranhos são bons e sua mãe está certa, você não deve confiar em nada no que dizem, ainda mais se disserem que são boas pessoas... — Mabekko apertou os lábios para cessar a tagarelice. Nada do que dizia fazia sentido. Ela sabia que deveria proferir algo mais incentivador. Procurou pelas palavras e nada de bom viera à mente. Mabekko suspirou, demonstrando desânimo. — Ãhn... não que eu seja uma dessas pessoas, é claro. — Murmurou.

O entusiasmo só retornou quando o garoto voltou a falar. — Não se preocupe, prometo por Tapu Koko que sua mãe não saberá de nada! — Mabekko levou a mão direita na direção do peito, com a palma aberta, sinalizando seriedade. Então, ouviu com certa timidez a história do menino. Ficou imaginando por quanto tempo ele estivera procurando pelo pokemon nesse frio. Talvez esse fosse um dos motivos da tremedeira. Mabekko inspirou fundo, não notou que segurava as próprias lágrimas enquanto atentava à história, agora fazia uma careta ridícula. O inverno sempre a deixava mais sentimental. Obrigou-se a não deixar cair uma lágrima sequer dos olhos. — Não se preocupe... — Disse ela numa fungada. — Rowlet e eu iremos te ajudar a encontrar Formantis e as Oran Berries! — Mabekko mostrou depressa o pokemon aconchegado na bolsa. Rowlet resmungou, mas ela o ignorou. Limpou os olhos e num segundo exibiu um sorriso confiante. — Primeiro, vamos procurar Formantis. Aonde foi a última vez que a viu?

O garoto ficou alguns segundos em silêncio, talvez tentando se lembrar de onde estivera com o pokemon. Mabekko ficou com certa expectativa e deixou-o tomar o tempo que precisava. Quando recomeçou, Mabekko maneava a cabeça, atentando a cada palavra, mas ao ouvir sobre um pokemon azul espinhento que comia uma parte rosa de outro pokemon, suas sobrancelhas arquearam levemente. Por Tapu Koko, que tipo de pokemon é esse?! Será que Formantis vai ficar bem sozinha? Pensou ela, engolindo em seco. A garota se sentia horrorizada e ao mesmo tempo um tanto curiosa com tais pensamentos, mas obrigou-se a não demonstrar nenhuma das duas no seu rosto. — Oh... sim, com certeza estavam só brincando... ha ha ha — Deu um sorriso fraco e virou o rosto, fixando os olhos num arbusto próximo. A inocência do garoto fazia o coração dela se derreter feito manteiga.

Presa em seus pensamentos, nem notou quando o menino saltou do banco e se aproximou. Mabekko voltou os olhos nele e abriu um largo sorriso. A respiração da garota formava uma nuvem de ar congelante, e percebeu que a palidez esmaecia do rosto dele. — Com todo prazer. — Mabekko respondeu. Segurou a mão do mesmo de forma delicada, mas suficientemente firme para deixa-lo seguro. — Ele gostou de você. — Disse ela encarando Rowlet que piava satisfeito. — E sei que ele também ajudará e de muito bom agrado, né Rowlet! — A jovem riu da reposta preguiçosa do pokemon. Sentia que estavam mais próximos. — Ah! Ia quase me esquecendo, meu nome é Mabekko, qual é o seu? — Mabekko esperou que o menino respondesse para voltar a falar: — Agora que sabemos o nome um do outro, não somos mais estranhos, né? — Falou em seu tom amigável. Desviando a atenção para o caminho de neve, Mabekko também constatou que não sabia para que lado ficava a praia. — Err, pode me mostrar o caminho da praia? Ah, mas não se preocupe, tenho uma ótima memória, vou lembrar do caminho de volta quando estivermos com Formantis e as Oran Berries!

Rowlet deu outra espiada da fresta da bolsa. Ele se encolhia e em seguida se esticava para ver por onde sua nova treinadora e o amigável menino se conduziam. A neve descia lentamente e de vez em quando alguns flocos pairavam na ponta do seu bico, na qual, obrigava-o a balançar a cabeça para expulsa-la dali. A caminhada não durou muito, mas mal chegara e já podia escutar o familiar chiar das ondas. Aquele lugar lembrava-o do Professor Kukui, uma boa pessoa, sempre lhe dava comidas deliciosas. Saudades da boa comida, pensou a coruja, fechando os olhos e voltando a se aconchegar na bolsa.

Mabekko por outro lado ficou fascinada pela praia. Sendo uma oriunda de Alola, era impossível não amar a imensidão do manto azulado, que por sinal, ficava a cada segundo mais lindo graças aos flocos de neve; o toque da areia sob os pés e a brisa surpreendentemente fria soprando por ela. A jovem inspirou fundo enchendo os pulmões com o aroma de água salgada. Mesmo no inverno as praias de Alola detinham um aspecto acolhedor. No entanto, aquela praia estava completamente vazia, literalmente. Não se via nenhum tipo de arvore, sequer uma Oran Berry solitária caída na areia — que era tomada pela neve —, nem mesmo denotava a presença de qualquer pokemon. Estranho, pensou Mabekko, observando o local. Não era comum ter uma praia tão... desabitada.

O garoto recomeçou a chorar e de forma desajeitada, Mabekko tentou acalma-lo. — Err... ãhn... E agora? — Murmurou entre os dentes. Ela olhou exasperadamente ao redor, à procura de alguma pista. Deixou os olhos percorrerem de maneira apressada a área. Atentou aos céus, nada, para ambos os lados, nada. Começava a se questionar se fizera a escolha certa de leva-lo ali. E se eles não encontrassem Formantis? Seria terrível. Foi então que, analisando melhor a areia que a treinadora percebeu algumas pegadas seguindo à oeste. Estavam quase sumindo. — Ali! Pegadas! — Sua voz soou mais alta e estridente do que deveria. — Tenho certeza que são de Formantis. — Na verdade, a garota não tinha ideia se eram realmente do pokemon, mas esperava que o garoto as reconhecesse ou ficasse um pouco mais confiante. Segurou a mão dele e apontou para o oeste. — Não custa nada dar uma olhada, certo?

Independentemente de estar chateado ou não, o menino aceitou a ideia de Mabekko sem retrucar. Por instinto Mabekko sorrir. Ele se mostrava ser mais forte do que aparentava. Porém, Mabekko sentia uma fisgada no peito por ele não confiar o bastante nela para dizer o próprio nome. Inspirou fundo enquanto seus pés afundavam na areia e sentia pela sola dos sapatos o ruído delas. O vento frio assoviava nas pontas das orelhas da jovem, fazendo-a estremecer. A neve começava a ficar mais densa e as pegadas aos poucos sumiam, até que em certo ponto não se podia ver mais nenhum rastro. De repente, um arbusto próximo chacoalha. Ao escutar aquilo o menino largou a mão da treinadora e foi de braços erguidos correndo na direção da folhagem — deduzindo que fosse Formantis. No entanto, ao invés de Formantis outro pokemon viera ao seu percalço.

O menino se assustou e o pokemon que demonstrava ser um tanto superior, arranhou-o na mão, o fazendo cair de costas em meio a neve. Mabekko ofegou e num piscar de olhos projetou-se o mais rápido que pôde ao lado dele. A criança dava o melhor para segurar as lagrimas que ansiavam a escorrer pelo pequeno rosto pálido. — Ei! Cuidado com essas unhas! — Mabekko disse por instinto. Franziu o cenho e o fitou, indignada. Ela também queria saber o motivo de tanta hostilidade. Talvez aquele lugar fosse seu território, mas ainda assim, atacar não era a resposta.

Nesse momento, Rowlet voluteou de dentro da bolsa e pôs-se para fora num curto voo gracioso. Ele se apruma na neve e estufa o peito enquanto fixava os olhos no gatuno. Mabekko arqueou as sobrancelhas confusa e ao mesmo tempo intrigada. O que ele pretendia fazer? Mabekko achava que Rowlet também queria proteger o garoto, no entanto, o que a pequena coruja realmente pretendia era mostrar ao seu oponente o quanto era magnifico. Ninguém podia ser considerado mais lindo naquelas redondezas, ao não ser que fosse ele. Deixando um pouco o pensamento de lado, Mabekko lembrou-se da sua pokédex. Apressou-se a pega-la e imediatamente apontou para o gatuno perto do arbusto.

Quando as informações apareceram no visor, Rowlet abria as asas numa — outra — demonstração — de magnificência —, mas Mabekko entendeu aquilo como que ele estivesse se preparando para batalhar. Ela maneou a cabeça e respirou fundo. — Entendi. Rowlet, vamos lá! Use... err... Growl! — Rowlet oscilou. Ainda que surpreso pelo súbito comando, acatou prontamente. Abriu a boca e desatou num grito estridente e penetrante que distorcia o ar em direção ao adversário. Mabekko traçou na mente o que deveria fazer a seguir. — Agora alce voo e com a ajuda da neve utilize Leafage! — A coruja piou forte e abriu as asas alçando voo. Ele rodopiou depressa e num movimento liberou várias folhas verdes brilhantes de seu corpo. As folhas então tomaram a forma de um espiral como um tornado furioso e logo dirigia contra o gatuno.

Mabekko não esperava que Meowth esquivasse do primeiro ataque, revidando logo depois e fazendo Rowlet vacilar. A jovem subestimara o gatuno e a si mesma, sua expressão foi de confiante para aflita num piscar de olhos. Tornou os olhos para o visor do pokedéx e atentou que aquele ataque chamava-se de Fake Out. Mabekko mordeu os lábios, tensa, tomando mais informações do pokemon. Em contrapartida, Rowlet não se abalou, executou o segundo ataque com precisão. Mas, o adversário não desistiria tão facilmente, conseguiu atingir Rowlet nos ares através de um arranhão no rosto. Mabekko congelou. — Rowlet! — Gritou ela, cerrando o pulso no objeto rosa. A pequena coruja queixou-se da dor, oscilando algumas vezes no ar. Balançou o rosto de um lado e para o outro e depois bufou irritado, voltando a ficar estável. A jovem suspirou de alivio ao vê-lo bem e reparou que ele exibia uma expressão totalmente diferente daquela do início da batalha. Parecia... determinado!

Mabekko não conteve o sorriso audacioso. Até ela sentia o fascínio do furor da batalha agora. O coração batia forte contra o peito e tentava ao máximo permanecer calma. Ambos entravam em sintonia e o que mais ansiavam naquele momento era vencer. Porém, também sabiam que para isso acontecer tinham que trabalhar juntos. A jovem treinadora inspirou fundo, encheu o peito de ar. — Certo Rowlet, vamos dar o nosso melhor! — Ela nunca fora do tipo de criar boas estratégias, mas sempre surgia ideias malucas na sua mente e a maioria delas colocava para funcionar. E uma brotou na sua cabeça. — Deixe-o provar um pouco dessa linda neve e mostre quão fria ela pode ser. Use sua velocidade e voe! — A pequena coruja torce o pescoço quase 180º, olhando diretamente a sua treinadora para receber as instruções. Eles se encararam e o pokemon entendeu de imediato o que ela queria dizer. Em um piado confiante, Rowlet abriu as asas e arremeteu velozmente contra o adversário. Porém ao invés de acertá-lo, o mesmo o ultrapassou pelo lado, e em consequência do súbito desvio, uma grande quantidade de neve do chão fora derramada acima de Meowth. Logo, alçou voo outra vez.

— Use Leafage no chão e depois em Meowth! — Comandou Mabekko animada. Da mesma forma como Rowlet fizera anteriormente, ele rodopiou e de baixo de suas asas, brilhantes folhas verdes saíram como um tornado rumo ao oponente. A primeira investida foi direcionada ao solo onde o impacto erguesse contra o gatuno qualquer e todo tipo de empecilho que causasse dano extra — pedra, areia e mais neve — e, o impedisse de contra-atacar. Rowlet bufou e do mesmo lugar usou Leafage de novo, adicionando mais precisão ao golpe.

Após o segundo ataque, Meowth usou da mesma estratégia para se aproximar e morder a coruja nas asas. Rowlet urrou de dor e ficou completamente irritado. Como esse gatuno ousava morder sua belíssima pluma? Pensou Rowlet, comprimindo o bico tanto de dor e fúria. Mabekko assistia a batalha se desenrolar com certo nervosismo e entusiasmo. Pode ser meio contraditória ou coisa de maluco, mas todas essas sensações faziam-na sentir mais viva do que nunca. A jovem quase perdeu o fôlego ao ver seu pokemon tonto. — Rowlet estamos quase lá, você é mais forte, continue firme! — Gritou, tentando enviar toda a energia que ele precisava. Mabekko então fitou a pedra cumplice de Meowth. De alguma maneira tinha que dar um jeito naquela pedra e oprimia com todas as forças a vontade de chutá-la para longe. Mas a garota sabia que isso seria totalmente em vão; além de ser contra as regras, no fim, acabaria machucando o próprio pé.

Matutou por alguns segundos por uma ideia. O gatuno negro aparentava estar mais cansado e talvez não conseguisse pular tanto quanto antes ou conseguiria? Rowlet torcia o pescoço outra vez, fitando a treinadora e espera por novas instruções e quando achava que demorava muito, chamou sua atenção com um pio repreendedor. — Ah certo! Vamos terminar com isso. — Mabekko inspirou fundo, as sobrancelhas curvadas na testa. — Continue voando e use as folhas das arvores e dos arbustos para ampliar seu ataque com Leafage! — Rowlet arquejou entusiasmado, deixando de lado o cansaço. Sobrevoou veloz à uma arvore próxima e girando com vigor várias folhas arrebataram, encobrindo seu corpo, lembrando quase um escudo verde e, do mesmo movimento, folhas brilhantes assomaram abaixo de suas asas. Ligeiro, ele as lança ao oponente. Mabekko não sabia se o golpe funcionaria, no entanto, imaginou que no caso Meowth desviasse, iria atacar Rowlet no ar e ela teria que ser mais prudente de não o deixar sofrer mais danos. — Voe um pouco mais baixo. — Com isso, Mabekko praticamente estava dando uma brecha para uma aproximação, pois a ave relaxava os músculos do corpo. — Espere... espere... agora, use Tackle! — Rowlet aguardava e atentava a qualquer ação do gatuno e quando notou que Meowth estava perto o bastante, abriu as asas, e então, voou mais rápido do que nunca, acertando-o com o bico, impedindo qualquer ataque e defesa.

O coração da jovem pulou de alegria ao ver que o segundo ataque não fora necessário para derrotar Meowth. E mal pisca, a pokedex apitou informando que Rowlet ganhou um novo movimento. ‘Peck’. Deu uma rápida olhada nele, mas o garotinho tomou toda sua atenção contando com muita animação os momentos da batalha e, lembrando que não deveriam deixar o gatuno ali, desmaiado ali, sozinho naquele frio. Mabekko sorri e maneia a cabeça, concordando. Ouvir o quanto eles eram fortes fazia seu íntimo estremecer de contentamento. Enquanto isso, Rowlet planava majestosamente até pousar na cabeça da treinadora. Expulsou a neve do corpo num chacoalhar e fechou os olhos, emitindo um forte suspiro. Estava cansado, porém, o importante era que vencera aquela batalha.

Mabekko sentiu o peso extra na cabeça durante o tempo em que pegava uma pokebola e a deixava expandir na mão. — Bom trabalho Rowlet! — A coruja nem se deu o esforço de responder, sabia que tinha feito mesmo um ótimo trabalho, inclusive, ao lado de uma treinadora iniciante. Mabekko quase rir de si mesma, aos poucos se acostumava com a personalidade da ave ou de não ter alguma reação vinda dele. Se vira para o menino e continua a falar: — Você tem toda a razão, não podemos deixa-lo aqui. — Ela ainda não possuía a intenção de pegar qualquer pokemon, mas Meowth era forte e detinha de muita experiência com batalhas, talvez pudesse ajudar Rowlet e ela nesta jornada maluca. Num leve movimento de mãos, a garota lança a pokebola que quica no gatuno e em seguida abrindo, sugando-o para dentro. Mabekko viu a pokebola fechar e cair no chão. Ficou assistindo a esfera ir de lado para o outro com certo nervosismo. — Assim será mais fácil leva-lo à Pokemon Center e continuar na procura da Formantis e das Oran Berries, certo?

Mabekko pegou a esfera que jazia gélida ao toque. Enquanto o guardava numa parte quente da bolsa, correu os olhos para onde o garotinho apontava com os dedos. Mabekko deu dois passos longos em direção ao arbusto. Empurrou as folhas para os lados e prontamente constatou que havia duas trilhas de pegadas. A primeira assemelhava-se com o formato da pata do gatuno, mas a segunda era diferente, ou melhor, parecia com as que eles perseguiram, antes da neve dissipa-la e de encontrar Meowth. — A pegada se parece com a que seguimos, não é? — Mabekko falou. Ousou a dar outra olhada pelas redondezas e tentar encontrar mais alguma pista, mas foi em vão. Suspirou e fitou o menino. — A única opção que temos é continuar seguindo. Tudo bem por você?

A neve não cessava e a jovem sentia uma aflição no peito ao vê-lo naquele frio. Alola era um lugar calmo e caloroso, mas consegue ser cruel quando quisesse. Lembrou-se que possuía um cachecol pequeno na bolsa, talvez fosse o suficiente para esquentar uma criança. Pegou num puxão apressado e calmamente o enrolou em torno do pescoço dele. Apertou os olhos, analisando-o. — Perfeito. Não acha Rowlet? — A ave ainda inerte sobre a cabeça da treinadora piou. Mabekko sorriu, estendeu a mão tocando o cachecol grosso com um dedo. Seu rosto assumiu uma expressão solene. — Sim, perfeito! Vamos?

Mabekko ajudou o garoto a atravessar o arbusto segurando-o pelas mãos. Depois de estarem do outro lado, continuaram a perseguir as pegadas. Ali, o chão tomava um aspecto diferente, a neve aos poucos diminuía, dando lugar à costumeira terra batida. Mabekko ficou deslumbrada. As gigantes arvores em torno do local se transfigurava num tipo de escudo protetor, impossibilitando a penetração dos pequenos flocos e manchando-a no tom branco. A impressão é de ser um lugar totalmente sereno. Além disso, as pegadas também ficaram mais visíveis, o que proporcionou alegria imediata à dupla. Respirando fundo, Mabekko sentiu um aroma familiar. Deixaram que as pegadas e o aroma os orientassem pela trilha. E conforme adentravam, avistam uma clareira coberta pela neve, exceto a área do centro.

O súbito movimento nos arbustos fez Rowlet empertigar-se da cabeça da treinadora, elevando o corpo ao ar; estava atento e se preparava, se fosse necessário a batalhar. Mabekko também fora rápida, pegou sua pokedex da bolsa e apontou ao pokemon com traços verdes e róseos. Contudo, o garoto bradou o nome da pequena criatura antes que a pokedex a informasse. Ele correu eufórico, os olhos transbordando de lágrimas e pura felicidade. Fomantis soltou as frutas azuladas em meio a neve e de imediato lançava-se para o menino. Agora, era vez de Mabekko de segurar as lágrimas. Inspirou fundo várias vezes, a cena parecia ter sido tirada de algum filme. Rowlet percebendo que não haveria nenhuma batalha, foi lentamente para o lado dela. Mabekko, o puxou pondo-o no colo.

A jovem se aproximou devagar, temendo chamar atenção ou quebrar o clima caloroso. Enquanto era apresentada, ela fixa sua atenção nas pequeninas laminas da criatura. Mabekko estava encantada e ficou imaginando que poderiam cortar qualquer cosia se assim quisesse. — Muito prazer Fomantis. Você nos deixou bastante preocupados, mas o importante é que estão juntos novamente. — Mabekko sorriu. Logo atentou as frutas azuladas no chão e no aroma doce. — Essas são as Oran Berries, não é? Estão com uma aparência deliciosa.

Mabekko deixou escapar uma pequena risada quando o garotinho dizia incontrolavelmente o quanto amava o pokemon. Deve estar com aquela sensação de ter tirado um peso enorme das costas. Maneou a cabeça, aceitando com muito bom gosto a oferta das frutas, Rowlet precisava mesmo descansar e se curar. Sentou-se no chão e de súbito estremeceu quando a neve gélida tocou sua pele. Um arrepio perpassou das costas até a base da nuca. A corujinha então, aterrissou no colo dela. Passou as mãos com delicadeza nas penas macias dele e cedeu a fruta azulada.

Durante o tempo em que deixava-o saciar com a Oran, Mabekko fitou o menino. A pergunta do seu destino pegou-lhe desprevenida, pois ela não sabia para onde ir exatamente, apenas que deveria seguir em frente. Apertou os olhos, pensativa. — Hmm... Acho que vou para Hau'oli City, tenho que encontrar minha mãe. Ela é meio lelé da cuca, sabe? Vou aproveitar para curar Rowlet e Meowth no caminho.

Mabekko traçou os dedos pelos cabelos, pondo uma mecha para trás da orelha. Rowlet começava a se sentir melhor, por isso pulou para o chão, ficando do lado de Fomantis. Os dois iniciaram uma conversa amistosa, a outra criaturinha ainda ofereceu mais uma Oran Berry. Ele piou feliz, engolindo-a por inteira. — Rowlet, você vai acabar se engasgando assim. — Mabekko falou atônita. Ele estava tão faminto assim? A garota suspirou, deixando o silencio tomar conta entre eles. A mini-aventura estava prestes a terminar e isso a entristeceu. Sem saber ao certo o que dizer a garota ficou brincando com os dedos avermelhados do frio. — Vocês já vão voltar para casa, não é? — Virou o rosto para o céu e expeliu ar. — Já está ficando tarde, talvez sua mãe esteja preocupada... Vamos voltar? Eu ajudo a carregar as Oran Berrys. — Rowlet tombou a cabeça para o lado, confuso. Por que mostravam feições tão tristes?